Altas habilidades e superdotação: saber e praticar para incluir

          Em geral, as Altas Habilidades e Superdotação estão associadas com a inteligência, ou seja, um excelente desenvolvimento das funções cognitivas. É fato que essa característica está presente em pessoas com AH/SD, mas as teorias de Renzulli (1978, 2004, 2011) e Gardner (2010) propõem uma inteligência que envolve o potencial humano em atividades específicas e em realizações criativas. A partir dessa ideia, as AH/SD situam-se como um fenômeno multidimensional, ou seja, contemplam habilidades cognitivas, afetivas, sociais, artísticas, criativas e motivacionais.

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            Muitas crianças não têm a oportunidade de explorar suas potencialidades em seus primeiros anos de vida e seus talentos podem ficar escondidos ainda durante os anos escolares e, às vezes, por toda a sua vida. Concernente a isso, quando estas crianças descobrem características que as fazem diferentes das outras, há, de certa forma, uma reação negativa, o que leva ao desenvolvimento de problemas comportamentais ou psicológicos, já que estas tentam se adaptar aos ambientes escolar e familiar a todo custo.

          Gênios, pessoas talentosas, crianças precoces, crianças prodígios, são algumas expressões usadas como sinônimos para definir pessoas com Altas Habilidades/Superdotação – AH/SD (Pérez, 2008; Pérez & Rodrigues, 2013). Sabe-se que toda criança tem sua individualidade, o que não faz as pessoas com AH/SD diferentes no quesito social, que têm suas especificidades e particularidades como qualquer ser humano. Desta forma, a inclusão em todos os parâmetros sociais se faz necessária, mas que não acontece corriqueiramente, tendo em vista que as inúmeras habilidades gerais e/ou específicas nem sempre são bem quistas por todos. 

          Pérez e Rodrigues (2013) esclarecem as terminologias precocidade, criança prodígio e gênio a fim de sanar as dúvidas para não serem confundidas com AH/SD. O termo precocidade consiste em habilidades antes do tempo previsto, por exemplo, aprender a ler antes dos seis ou sete anos. É importante ressaltar que crianças com AH/SD geralmente são precoces, mas nem toda criança precoce terá AH/SD. A criança prodígio apresenta um desempenho extraordinário antes dos 10 anos de idade (Alencar, 2017), mas isso não é característica suficiente de AH/SD. Por outro lado, o gênio caracteriza uma pessoa adulta, falecida, o qual realizou descobertas ou invenções relevantes que contribuíram para a humanidade.

          Renzulli (2011) destaca a importância de ampliar os critérios para avaliar o potencial dos jovens e, ainda, que a superdotação é um processo que pode ser desenvolvido nos estudantes, em vez de serem identificados por meio de um escore de QI. Gardner (1999, 2010) afirma que essas inteligências estão presentes em todos os seres humanos e que não há duas pessoas com a mesma inteligência, pois as pessoas são diferentes uma das outras.

          Entre os indicadores de satisfação de vida, alguns pesquisadores (Ash & Huebner, 1998; Aspesi, 2017; Garces-Bacsal, 2010; Giacomoni, 2002) apontam, como mais significativos, aqueles voltados para o relacionamento interpessoal, como, por exemplo, a satisfação com a família. Garces-Bacsal (2010) enfatiza que os relacionamentos familiares são os principais eventos positivos que geram satisfação no relato de crianças dotadas e talentosas. Na mesma direção, Aspesi (2017) acrescenta que, de um modo geral, as famílias de crianças com potencial elevado são descritas pela literatura como famílias harmoniosas, afetivas, coesas e com menos conflitos do que as famílias de crianças que não demonstram potencial elevado.

          Na perspectiva da educação inclusiva, a escola regular deve promover as condições necessárias para a aprendizagem e o desenvolvimento de todos os seus alunos, inclusive aqueles que apresentam deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e AH/SD. Todavia, os alunos que compõem este último grupo, embora sempre presentes no ensino regular, não têm recebido a devida atenção educacional, uma vez que é comum passarem despercebidos pelas instituições de ensino. Desse modo, nota-se que ainda pouco se sabe sobre quem são essas crianças e quais as características que apresentam. Nesse tocante, é imprescindível ter clareza sobre a existência de indicadores de AH/SD, porém, sem cair em idealizações e estereotipias, pois se tratam de crianças reais e únicas em sua constituição, as quais não manifestam os indicadores da mesma maneira, tampouco com a mesma intensidade.

          Logo, ressalta-se que os estímulos e incentivos requeridos pelo desenvolvimento dos potenciais e das habilidades não devem estar desacompanhados dos cuidados que garantam à criança desfrutar o período da infância, dispondo de tempo para brincar e podendo se comportar como qualquer outra criança de mesma idade, pois, às vezes há incompreensão quanto à contradição entre comportamentos ora avançados e ora adequados à faixa etária. É preciso ter claro que a criança altamente habilidosa ou superdotada é, antes de tudo, uma criança.

REFERÊNCIAS


Aspesi, C. C. (2017). A família do aluno com altas habilidades/superdotação. In D. S. Fleith (Org.), A construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades / superdotação: O aluno e a família (Vol. 3, pp. 29-47). Brasília: MEC/SEESP.

Ash, C., & Huebner, E. S. (1998). Life satisfaction reports of gifted middle-school childrenSchool Psychology Quarterly, 13(4), 310-321. 

Bartoszeck, A. B. (2014, September/ December). Neurociências, altas habilidades e implicações no currículo. Revista Educação Especial, 27(50), Recuperado em 11 novembro, 2015, de http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/educacaoespecial/article/view/14284

Bates, J., & Munday, S. (2007). Trabalhando com alunos superdotados, talentosos e com altas habilidades. São Paulo: Editora Galpão.

Garces-Bacsal, R. M. (2010). Tales gifted children tell: Exploring PTAT responses as pathways to socio-affective concernsGifted Child Quarterly, 54(2), 138-151.

Giacomoni, C. H., & Hutz, C. S. (2006). Escala de afeto positivo e negativo para crianças: estudos de construção e validação. Psicologia Escolar e Educacional, 10(2), 235-245.

MARQUES, D.M.C. Reconhecimento por meio de indicadores da precocidade do aluno na educação infantil. 2014. 159f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) - Programa de Pós-Graduação, Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2014.

Texto elaborado pela acadêmica de Enfermagem Georgia Gabrielle Gonçalves Ferreira e pelo Professor José Ferreira Lima Júnior 

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