Adesão Masculina aos Serviços de Saúde e Novembro Azul: Uma Reflexão
Sabe-se que a população
masculina é uma das menos assíduas no que diz respeito à procura dos serviços
de saúde. Devido a isso, é, portanto, considerada como uma das mais vulneráveis
às doenças, especialmente em se tratando de homens idosos, além de apresentar
um maior índice de mortalidade, se comparada com outras coletividades.
O distanciamento da
população masculina dos serviços de saúde acaba, então, tornando-se um
comportamento que faz com que agravos que poderiam ser evitáveis sejam
diagnosticados tardiamente, podendo gerar sequelas irreparáveis, assim como
sofrimento físico e emocional tanto para o paciente, quanto para as pessoas que
estão ao seu redor (VASCONCELOS; FROTA, 2018).
Seja por falta de tempo,
receio ou machismo, sempre foi possível observar certo desinteresse por parte
dos homens quanto ao cuidado de saúde, especialmente em se tratando de ações de
prevenção e promoção da saúde (KNAUTH, COUTO, FIGUEIREDO, 2012 apud AZEVEDO, 2017). Diante dos vários
possíveis motivos desse distanciamento, faz-se necessário entendermos o que
significa masculinidade.
Assim, têm-se a
masculinidade como um conjunto de características, valores, funções e
comportamentos específicos do homem, cujos são atribuídos culturalmente,
podendo variar de acordo com cada local. Abrange diversas características que
podem variar a partir de diferentes, etnias, nacionalidades, idade, orientação
sexual, entre outros, com diferentes costumes e valores sociais que perduram há
muitos anos e tendo isso em consideração, a masculinidade deve ser, portanto,
vista como algo diversificado (VASCONCELOS; FROTA, 2018).
E é exatamente na
população idosa masculina que é possível notar com grande clareza o modo como
esses costumes e valores socioculturais influenciam severamente no modo de ver
masculino quanto a necessidade do seu cuidar em saúde. Estudos ainda comprovam
que a morbimortalidade em homens idosos é maior que nas mulheres, decorrente
inclusive sobre o pensamento equivocado de que o homem possui “imunidade ao
adoecimento”, construído e perdurado através dos anos (JANINI; BESSLER; VARGAS,
2015), o que só tende a dificultar na promoção da saúde do homem.
Diante da contrariedade
por parte dos homens quanto à precaução e autocuidado, é comum o adiamento da
procura por atendimento a casos simples, que poderiam ser facilmente resolvidos
através da Atenção Primária à Saúde (APS), e muitas vezes se agravam, podendo
levar essa população ao confinamento hospitalar, já chegando, portanto, no
setor terciário de saúde, provocando gastos particulares, como também públicos,
levando em conta que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem a obrigação em intervir
nas fases mais avançadas das doenças (NASCIMENTO et al., 2018).
No entanto, ainda que os
homens sejam em sua maioria responsáveis pelo tardamento de seus atendimentos,
há outro fator importante que precisa ser explanado. Assim, vale destacar ainda
que algumas dificuldades dos homens pela procura de assistência em saúde se dá
pela forma com que os próprios serviços de saúde lidam com essa população, não
sendo tratada como prioridade, o que acaba comprometendo mais ainda a evasão do
público masculino (NASCIMENTO et al., 2018).
Mesmo com o desenvolvimento
pelo Ministério da Saúde (MS) da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
do Homem (PNAISH), eminentemente voltada para a população masculina, ainda é
perceptível um certo despreparo por parte dos profissionais quanto a esse
público, bem como o pouco apoio estrutural para desenvolvimento direcionado das
ações de saúde. O surgimento da PNAISH foi considerado uma inovação no âmbito
da saúde e busca chamar atenção dos homens quanto ao seu cuidado, bem como da
população em geral, para que compreendam a realidade masculina (CARNEIRO et al,
2016).
Apesar disso, é possível
perceber certo descaso do SUS para com esta população em geral, especialmente
na APS que, por sua vez, possui poucas ações direcionadas a esse público, além
de não possuir, de forma geral, uma agenda de atendimento específica para a
população masculina, o que acaba tornando-se, muitas vezes, uma dificuldade
para aqueles que ainda procuram por atendimento (NASCIMENTO et al., 2018).
É comum a presença de
homens idosos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) durante o HIPERDIA, que tem
como intuito realizar rastreamento e controle de Hipertensão Arterial Sistêmica
(HAS) e Diabetes Mellitus (DM). No entanto, essa presença não é frequente
durante outros dias à parte deste programa, visto que não existe um dia
devidamente programado na APS exclusivo para atendimento masculino, embora seja
preconizado pelo MS a realização de ações durante todo o ano (BRASIL,
2015).
O MS objetiva, no
entanto, promover uma melhoria das condições de saúde do público masculino
brasileiro, de modo a auxiliar de maneira eficaz na redução da
morbimortalidade, por meio do enfrentamento de fatores de risco e facilitação
do acesso aos serviços de saúde e foi com esse propósito que a campanha
Novembro Azul foi criada (NASCIMENTO et al, 2018).
A campanha de Novembro
Azul possui caráter educativo e busca desenvolver ações voltadas à promoção da
saúde do homem, através do estímulo à realização de exames preventivos de
combate ao câncer de próstata, bem como promover o atendimento médico e de
enfermagem para aqueles que possuem hipertensão e diabetes, ainda que esta não
seja uma ação exclusiva para o público masculino (CZORNY et al., 2017; CARNEIRO
et al., 2016).
Assim como a PNAISH, o
Novembro Azul é considerado uma evolução no que se refere ao olhar sobre a
saúde do homem e é fundamental para o rastreamento de câncer, especialmente em
idosos. No entanto, há uma margem significativa de homens que desconhecem quais
são os serviços ofertados pelo SUS para a população masculina. Tal fator pode
ser relacionado ao nível de interesse desse público para com sua saúde e/ou o
modo como esses serviços estão sendo divulgados (AZEVEDO, 2017).
Na APS, percebe-se que há
uma contradição com aquilo que é preconizado na PNAISH, dado que a saúde do
homem ainda é vista de forma restrita, com uma tendência a ter enfoque apenas
nos problemas de próstata e não de maneira integral como é proposto nos
princípios e diretrizes da política (CARNEIRO et al., 2016).
Dado isso, percebe-se a
necessidade de haver mais investimento em ações e programas voltados à saúde do
homem, considerando-se que esse público, assim como qualquer outro, deve ter um
atendimento integral de qualidade, não voltado apenas para problemas tratados
habitualmente.
Torna-se, portanto,
imprescindível a criação de métodos que sejam capazes de motivar a população
masculina a frequentar mais os serviços de saúde, em especial a APS, para que
assim possibilite um atendimento precoce em tempo oportuno, de modo a prevenir
o agravamento de qual for o problema que o aflige (NASCIMENTO et al., 2018), em
especial aos idosos, estes mais vulneráveis devido ao processo de
envelhecimento.
Reforça-se ainda a
necessidade de tratar a temática como algo que precisa ser desenvolvido de
forma planejada e conjunta entre profissionais de saúde e gestores, e divulgado
de maneira efetiva, de modo a atrair cada vez mais a atenção masculina quanto
ao seu cuidado em saúde e, assim, tornar possível uma atenção integral à essa
população.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO,
I.M. Percepções Sobre Novembro Azul com Foco na Saúde Mental: Intervenção junto
a uma Escola de Vigilantes. ID ON LINE
REVISTA MULTIDISCIPLINAR E DE PSICOLOGIA, v. 10, n. 33, p. 207-218, 2017.
CARNEIRO,
L.M.R. et al. Atenção integral à saúde do homem: um desafio na atenção básica. Revista Brasileira em Promoção da Saúde,
v. 29, n. 4, p. 554-563, 2016.
CZORNY, R.C.N. et al. Perfil
do usuário homem atendido em uma unidade básica de saúde da família. Ver enferm UFPE on line., Recife, v.
11, n. 4, p. 1624-31, 2017.
JANINI, J.P;
BESSLER, D; VARGAS, A.B. Educação em saúde e promoção da saúde: impacto na
qualidade de vida do idoso. Saúde em
Debate, v. 39, p. 480-490, 2015.
KNAUTH,
D. R.; COUTO, M. T.; FIGUEIREDO, W. S. A visão dos profissionais sobre a
presença e as demandas dos homens nos serviços de saúde: perspectivas para a
análise da implantação da política nacional de atenção integral à saúde do
homem. Ciência & Saúde Coletiva,
v. 17, n. 10, p. 2617-2626, 2012.
NASCIMENTO,
I.M. et al. A Saúde do Homem: Um estudo reflexivo na ótica das ações de
promoção à saúde. Revista Pró-UniverSUS,
v. 9, n. 2, p. 41-46, 2018.
Secretaria
Estadual de Saúde do Piauí. Diretoria de Unidade em Vigilância e Atenção à
Saúde. Gerência de Atenção à Saúde. Coordenação de Atenção à Saúde do Adulto e
do Idoso. Posicionamento do Ministério
de Saúde acerca da integralidade da saúde dos homens no contexto Novembro Azul
[Internet]. 2015. Disponível em: http://www.saude.pi.gov.br/uploads/warning_document/file/76/Nota_t_cnica_-_PNAISH__-_Novembro_Azul.pdf
VASCONCELOS,
L.B; FROTA, M.T.E. Saúde do Homem na Atenção Primária. Cadernos ESP, v. 12, n. 1, p. 116-129, 2018.
Texto
elaborado pela Enf. Alêssa Cristina Meireles de Brito, orientado pela Prof.
Dra. Fabiana Ferraz Queiroga Freitas.
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