O câncer infanto-juvenil e os problemas psicossociais


            Apesar das neoplasias existirem a muitos anos no meio social, apenas nas últimas décadas vem crescendo de forma progressiva, tornando-se um grave problema de saúde pública mundial. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), são classificados como câncer infanto-juvenil indivíduos que possuem uma faixa etária inferior a 19 anos de idade. A doença, portanto, não afeta apenas o indivíduo diagnosticado, mas promove uma série de mudanças (sejam organizacionais, sociais ou emocionais) no âmbito familiar, podendo interferir diretamente no processo de tratamento do sujeito por carregar uma série de amedrontamentos e alterações (LANZA & VALLE, 2014).  


(FONTE: http://www.femipa.org.br/noticias/o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-cancer-infantojuvenil/)



            Para Piaget, nessa idade ocorre uma dupla evolução com respeito à socialização. Isso significa que a criança consegue se focar ao trabalhar de forma individual e, também, colaborativa quando há vida em comum, seguindo a mesma lógica para o adolescente. No processo de doença, o indivíduo infanto-juvenil sempre terá uma percepção mais simplista, ou seja, poderá tornar um quadro altamente complexo em algo inocente e simplório. Parte disso pode ser explicada ao fato deste conhecer sua patologia e imediatamente é acionada uma válvula de escape para o problema, ou poderá também levá-lo ao total desconhecimento do assunto, fazendo com que tolere todo o seu âmbito atual com diversos questionamentos (MOURA, KAMEO& SAWADA, 2014).

            Os métodos terapêuticos utilizados para crianças e jovens diagnosticados com alguma neoplasia são bastante extensos, tornando o processo de hospitalização ainda mais duradouro e de grandes prejuízos físicos e emocionais. Para lidar com tanta modificação, a criança pode utilizar de estratégias que serão inerentes aos indivíduos, pois cada sujeito possui em si uma carga de crença, valores, cultura e entre outros fatores onde ela estará apresentada (MOTTA & EMUNO, 2014). Na maior parte dos casos, o paciente tende a atingir diversos níveis de esgotamento, desânimos e cansaços emocionais quanto ao processo de cura. Partes dessas oscilações são decorrentes do abalo emocional da família provenientes do diagnóstico do sujeito e pelo receio imediato da morte (MOURA, KAMEO& SAWADA, 2014).

            Visto isso, pode-se perceber que em alguns casos a criança e o adolescente não conseguem expressar seus sentimentos, narrá-los ou externá-los, podendo utilizar-se de metodologias ou do lúdico que ajudem nesse processo de saúde-doença. Uma dessas alternativas é a utilização de desenhos, sendo este um precioso dispositivo de expressão, podendo ser perceptível uma série de sentimentos profundos e particulares da criança. Cada traço dessa projeção artística poderá revelar significados específicos do ser, podendo facilitar o sistema de tratamento, visto que nessa fase há uma dificuldade quanto à exteriorização do que está internalizado (CAVALCANTI, CORREIRA & TAVEIRA, 2019).

            Apesar dos inúmeros avanços nas áreas clínicas e psicológicas e que ainda exista uma crescente nos tratamentos terapêuticos e acompanhamentos, há um grave problema na porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, nas atenções básicas, apresentando limitações quanto ao diagnóstico antecipado e despreparo dos profissionais desse setor quanto à análise de sinais e sintomas (REZENDE, 2015). Visto que o diagnóstico precoce é considerado um dos fatores imprescindíveis para o processo de cura do sujeito, é necessária a capacitação e ampliação de conhecimentos de profissionais das mais diversas áreas nesse setor podendo diminuir, colaborar e acompanhar diretamente os casos de neoplasias infanto-juvenis e de outros tipos de cânceres existentes.

Referências:

LANZA, Lara de Faria; VALLE, Elizabeth Ranier Martins do. Criança no tratamento final contra o câncer e seu olhar para o futuro. Estud. psicol. (Campinas),  Campinas ,  v. 31, n. 2, p. 289-297,  June  2014 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2014000200013&lng=en&nrm=iso>.access on  21  Oct.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/0103-166X2014000200013.

Motta, A.B., &Enumo, R. S. F. (2004). Câncer infantil: uma proposta de avaliação das estratégias de enfrentamento da hospitalização. Estudos de Psicologia (Campinas), 21(3), 193-202. doi: 10.1590/S0103-16 6X2004000300004

Moura Silva, G., Kameo, S. Y.,&Sawada, N. O. (2014). Percepções da criança e do adolescente com câncer frente ao diagnóstico e tratamento da doença. Rev. iberoam. educ. invest. enferm.(Internet)4(4), 15-24.

Piaget J. A psicologia da criança. São Paulo: Ed. Difel; 1999.

Di Leo JH. A Interpretação do desenho infantil. Porto Alegre: Artes Médicas; 1991

Cavalcanti, S. L., Correia, D. S., & Taveira, M. D. G. M. M. (2019). ADOLESCENTES COM NEOPLASIA: DESENHO COMO EXPRESSÃO DE EMOÇÕES. JournalofNursing UFPE/Revista de Enfermagem UFPE13(4).

Rezende, A. M. (2015). Câncer Infantojuvenil: aspectos psicossociais (Doctoraldissertation).

Texto elaborado pelo Acadêmico de Enfermagem Alexandre Tiago e pela professora Dra. Silvia Carla Conceição 


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