O corpo que não cabe na sociedade: os impactos na adolescência
Desde o nascimento o indivíduo está submetido a um
padrão estético e é cobrado, de forma silenciosa, que seja seguido, e esta
cobrança se faz mais forte e presente no feminino, sendo encontrada nos mais
diversos locais: propagandas de lingerie, pasta de dente, carro, nas passarelas
de desfiles de moda, na escola, família, filmes e redes sociais. Carvalho e
Guerra (2015), destacam que o culto ao corpo, a corpolatria, é visto como uma
tendência de estilo de vida para responder ao apelo da sociedade que valoriza a
exposição de um corpo belo e esculpido.
A partir dessas apelações o sujeito tende a buscar
uma imagem (seja física, comportamental ou psicológica) que não lhe pertence,
porque não retrata o seu interior, apenas um exterior que atende ao que o
social quer ver. Quando suas tentativas de se enquadrar no padrão social que o
seu meio estabelece, o sujeito é punido e se torna vítima de atitudes
de exclusão, de bullying, de violência, que lhe gera sentimentos de baixa auto estima e em casos mais graves, como o
exposto por Silva, Taquette e Coutinho (2014), pode se tornar algo patológico
como a depressão, bulimia e anorexia, decorrentes da visão negativa que passa a
ter de seu do corpo uma vez que este não alcança o biótipo ideal.
Neste processo, o adolescente, fase marcada pela
autodescoberta, pela insatisfação com sua imagem corporal e pela busca de
aceitação social, se torna o sujeito de maior vulnerabilidade, pois, como
destacam Carvalho e Guerra (2015), é pelo corpo que o ser humano estabelece
a constituição do Eu e se insere na sociedade, que, por meio da coerção social, exige a
manutenção do corpo perfeito, que atende as expectativas da produção
capitalista.
Todo essa
“apelação” faz com que, na busca de um corpo perfeito, se instale a Ditadura da
beleza, e para não ser penalizado, o sujeito utiliza, como medida frequente
para obter seu ideal,medicamentos, vitaminas milagrosas, elixir, suplementos, plásticas,
horas exaustivas em academias. Para Dallo e Paludo (2011), este é o retrato de
uma sociedade narcísica, marcada por um vazio na esfera pública e o
investimento na privada, que trata o corpo como objeto de consumo e para
consumo, tornando-se um informador da individualidade, onde o fracasso ou o
sucesso dependerá da aparência corporal.
Pela força dessa
‘’ditadura’’ e a necessidade de buscar/manter a já existente aceitação social, o
jovem se submete a mudanças de hábitos radicais, sem levar em consideração o
risco ao qual expõe sua saúde, nem tomar consciência do sofrimento psíquico,
que juntos podem se tornar letais (JAGER,
2017). Um retrato disso é o filme “O
mínimo para viver” que conta a história de uma adolescente e sua luta
contra anorexia, a atriz Lily Collins em uma entrevista falou que ela teve que
emagrecer para interpretara personagem e uma amiga chegou a elogiar e perguntar
o que ela estava fazendo para estar com aquele corpo. Assim podemos ver na fala
da atriz a preocupante valorização de uma estética.
É necessário lutar
para quebrar esses padrões, uma vez que o corpo não pode ser transformado num
instrumento de autotortura, ele deve ser o ponto de referência para a
construção do EU exterior em comunicação e interação com o EU interior. Pois como destacam Dallo e Paludo (2011), os corpos nus nas redes midiáticas
são as verdadeiras representações de uma sociedade vazia e sem sentido. Por isso, é importante acabar com a
CORPOLATRIA, e fazer essa discussão chegar a todos: adolescentes, pais,
instituições escolares, instâncias governamentais, profissionais de saúde e
redes sociais.
Referências:
CARVALHO, S.R.; GUERRA, E.M.Corpo, sociedade e
construção de identidade.CES REVISTA,
Juiz de Fora, v. 29, n. 2. p. 50-66, ago./dez. 2015. Acesso em 13/10/2019.
Disponível em: https://seer.cesjf.br/index.php/cesRevista/article/view/474/pdf_55
DALLO, L.; PALUDO, K.I. Idolatria ao corpo na sociedade
contemporânea: implicações aos adolescentes. X Congresso Nacional de Educação, Pontifica Católica Universitária
do Paraná, Curitiba, 2011. Acesso em 13/10/2019. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4318_2894.pdf
JARGER,
M.E. et al. O corpo como meio de aceitação e inserção social:
contribuições a partir de Jeffrey Young. Bol.
Psicol. v.67, n.146, São Paulo, jan. 2017. Acesso em 13/10/2019. Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-59432017000100005
MENEZES, J.A. Ditadura da beleza. Espistemo-somatica. v.3, n.2, Belo Horizonte, dez. 2006. Acesso em
13/10/2019. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-20052006000200011
SILVA, M.L.A. TAQUETTE, S.R. COUTINHO, E.S.F. Sentidos da
imagem corporal de adolescentes no ensino fundamental. Rev Saúde Pública,v.48, n.3, p:438-44, 2014. Acesso em 13/10/2019.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v48n3/pt_0034-8910-rsp-48-3-0438.pdf
Texto elaborado por
Rosielly Cruz de Oliveira Dantas, orientado por professora Sílvia Carla
Conceição Massagli.
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